sábado, 3 de janeiro de 2009

Depois De Tudo



Depois De Tudo


Por algum tempo fiquei aqui pensando em citar algum poeta, alguém mais apto que eu a falar do tema.

Tentei até buscar auxílio divino como até mesmo Camões um dia fez, ao pedir permissão para terminar sua obra.

Consegui no máximo falar dos dedos-grilhões de uma Deusa local, coincidentemente tão brancos quanto a prisão formal do muro de papel.

Do horizonte infinito dado pela brancura, à evidência da falta de pureza, o branco nos deixa perplexos com sua magia.

Muros maculados pela transgressão do homem deixam o branco até mesmo assustador, nada pode ser mais desconcertante do que a ameaça de revelações bombásticas.

Assustador também é o muro branco que tenta segurar dentro de si a inocência que um dia será perdida, ele porem se mantido branco nos fará crer que ela ainda mora lá.

A aparência inocente talvez seja na verdade a mais perigosa mentira, talvez seja apenas a fina camada de tinta que nela nos faz acreditar.

O branco do muro na verdade não tem o valor que aparenta ter, mas pode ser útil para que com cores menos enganosas, possamos pintar sobre ele um quadro com cores de vida real.

Conheci um homem que acreditava apenas nas cores do jornal, e nas cores pouco reais de suas fotografias em preto e branco, o homem se chocou e morreu sua fantasia.

Morreu a fantasia daquele homem, ao ver as cores da vida estampadas nos jornais que lia, ele acreditava que a realidade era preto e branco, acreditava numa realidade mais disfarçada e menos dolorida, traduzida em preto e cinza, sobre papel jornal branco

Por fim morreu também o homem, alguns anos depois de ver morta diante de si sua tristonha fantasia, depois de tudo sobraram as cores fortes da vida sem inocência, maculando o muro branco.
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